Restaurante para os pássaros do continente
Imagine um enorme restaurante, aberto com qualquer tempo e a qualquer hora. Isto é o que a Lagoa do Peixe é para os pássaros, vindos tanto da Patagônia como das proximidades do Círculo Polar Ártico, do outro lado do mundo. Visitar esse lugar é a oportunidade para conhecer um lugar muito bonito e quase inexplorado, e de encontrar, entre outras aves, os belíssimos flamingos.
A Lagoa do Peixe está situada no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, que tem uma área total de 34,3 mil hectares, na estreita faixa situada entre o mar e a Lagoa dos Patos, no litoral sul do Rio Grande do Sul. Tem um comprimento aproximado de quarenta quilômetros, e um perímetro de cerca de 160 quilômetros, incluindo, na verdade, uma sucessão de pequenas lagoas (cerca de dez), interligadas por estreitos canais, abrangendo áreas dos municípios de São José do Norte, Tavares e Mostardas.
A sua largura não ultrapassa mil metros, sendo cercada, do lado da costa, por dunas com areias movediças, e do lado da lagoa dos Patos por banhados, campos e mais dunas. Sua profundidade atinge no máximo oitenta centímetros quando é maior o acúmulo de águas, o que acontece geralmente durante o inverno e a primavera.
Durante a maior parte do ano, é uma lagoa de água salgada. Mas, quando chove bastante, suas águas ficam salobras. Essa mesma chuva, entretanto, faz com que o quadro termine por se inverter. O grande volume de águas na lagoa rompe a pequena barra de menos de cem metros que a separa do mar, e abre-se um canal que permite a comunicação com a água do mar.
Durante a maré alta e nos dias de vento sul, a água do mar entra na lagoa. Como está acima do nível do mar cerca de sessenta centímetros, quando o nível das águas se reduz, a água salgada fica retida. E a lagoa fica hipersalina, à medida que a água vai evaporando.
E é nessa dança entre mar e lagoa que está o grande atrativo para as aves. Pois com as águas do mar, entram também na lagoa milhares de moluscos e algas. Quando as águas ficam baixas, principalmente na primavera e até o início do verão, fica fácil, para as aves, capturar moluscos no seu fundo lodoso.
É justamente nessa época que chegam milhares de aves do Hemisfério Norte, entre elas inúmeras espécies de maçaricos, o trinta-réis e diversas batuíras. Essas aves procriam nas partes mais frias da América do Norte, e migram para o sul durante o inverno boreal, seguindo, algumas delas, até o sul da Argentina.
Não é uma viagem fácil. São trechos de quinze a vinte mil quilômetros, sem escala, voando dia e noite. Com isso, as aves queimam qualquer reserva de gordura que tenham. E, quando chegam na lagoa do Peixe, precisam comer continuamente, para recompor suas forças e seguir para a Argentina. No início do outono, quando voltam para a América do Norte, uma nova parada irá garantir as forças necessárias para a viagem. Em ambas as paradas, comem o máximo que conseguem, dia e noite. É uma visão impressionante, grupos de dez a doze mil maçaricos procurando, avidamente, por seu alimento. É por isto que alguns moradores da região costumam brincar, dizendo que ali está "o maior restaurante de beira de estrada do mundo".
Mas o restaurante de beira de estrada também recebe visitantes mais "nobres", cujas penas são um dos enfeites preferidos dos barões e duques do carnaval. São os flamingos, que estão na lagoa durante o inverno, chegando em meados de maio e ficando até o final de julho.
Muito antes de se falar em Mercosul, esses pássaros já praticavam a integração. Eles vêm das regiões mais frias do sul da Argentina, ou de regiões próximas aos Andes, inclusive do Chile. Eles preferem ficar defronte à barra da lagoa, onde as águas são muito rasas, tornando fácil a captura de moluscos. Esse é o único ponto do estado onde ocorrem em grandes bandos. Com sua plumagem rosa avermelhada, em grupos formados por centenas de indivíduos, parecem uma pintura impressionista ao nascer ou pôr-do-sol.
Mas, quando se alimentam, deixam de ter qualquer aspecto poético e passam a ser muito engraçados. Eles encostam o bico na areia, e giram em volta dele caçando os moluscos com as patas.
Como chegar
De Porto Alegre a Tavares, defronte à Lagoa do Peixe, são 226 quilômetros. Para quem vai iniciar a viagem na Capital, a melhor alternativa é seguir pela RS-040 até a localidade de Capivari, num total de 75,5 quilômetros. A partir dali, segue-se pela antiga Estrada do Inferno (atualmente BR-101) até Mostardas e Tavares, num total de 150,5 quilômetros (clique aqui para ver um mapa). Em Mostardas, uma boa oportunidade - comprar um dos famosos cobertores e ponchos de Mostardas, feitos com lã e de forma artesanal, capazes de resistir ao mais duro minuano.
Em Mostardas há a opção de se pegar uma estrada secundária e seguir pela praia até a Lagoa. Também se pode ir até Tavares, situada cerca de 30 quilômetros depois de Mostardas, e de lá ir até à Lagoa, a poucos quilômetros. Se a coragem for muito grande e para quem tem um carro alto com tração nas quatro rodas, dá para continuar a viagem pela Estrada do Inferno, depois de visitar a Lagoa do Peixe, até São José do Norte e de lá passar para Rio Grande.
No entanto, atenção. Nesse trecho - Tavares até São José do Norte - não há propriamente uma estrada. O que há são caminhos entre as dunas. Quem não quiser passar horas atolado, terá que ter um veículo adequado. Mas a paisagem é inesquecível. Especialmente quando as cinésias - pequenas margaridas amarelas - cobrem as dunas, formando um tapete amarelo.
Crédito da Foto: Renato Grimm
WENZEL,obrigado pela oportunidade que estas proporcionando a todos que acessam teu blog,para conhecerem e aprenderem um pouco mais sobre as belezas que temos nesse nosso Rio Grande.Abraços
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