segunda-feira, abril 19, 2010

Dia do Índio: 19 de abril

A notícia avassaladora chegou aos Sete Povos, no ano de 1750: pelo Tratado de Madrid, a região das reduções jesuíticas deveria ficar com os portugueses. No prazo de um ano, os jesuítas deveriam deixar os aldeamentos e migrarem com 30 mil índios para as terras espanholas. Decisões distantes e insensíveis estavam determinando o fim de um modelo único. Haviam sido construídos templos magníficos. Pela primeira vez nas Américas fundia-se o ferro e o bronze, as artes prosperavam, havia abundância de alimento, os ervais se desenvolviam e nas estâncias missioneiras proliferavam mais de 700 mil cabeças de gado. Dessa experiência, berço do cooperativismo, que poderia ter gerado o estado guarani missioneiro, muito se pode dizer e avaliar. Contudo, um aspecto merece destaque neste Dia do Índio. Trata-se do modelo de uso da terra, do trabalho e distribuição dos resultados.

A maior parte das terras pertencia à comunidade, constituindo-se no que chamavam de Tupambaé (Tupã = Deus; mbaé = coisa ou propriedade). O que era produzido nestas áreas era de uso coletivo, para produção de sementes, abastecer os depósitos de alimentos comuns, atender aos viajantes e hóspedes, prover o sustento dos inválidos, doentes, órfãos e mulheres viúvas e, garantir a manutenção do conjunto. Já no processo conhecido como “Ambabaé” (coisa de índio), a produção era para a família que recebia sua fração de terra. Por dois dias da semana, todos, inclusive os caciques, tinham que trabalhar nas terras comuns, e nos outros quatro, se dedicavam às suas propriedades individuais.

Considerada como a “utopia da batina”, a experiência missioneira buscou atender um sonho ancestral dos guaranis: viver numa “terra sem males.” Para a cultura indígena, a idéia da usufruição coletiva faz parte de sua tradição. A terra, no seu conjunto natural, por ser considerada sua mãe, é de todos. O formato que permitia ao aldeado prover por sua subsistência sem descuidar do coletivo, dividindo a semana em tarefas comuns e particulares, foi inclementemente destruído no massacre que foi a Guerra Guaranítica.

De hábitos nômades, os indígenas passaram a viver em povoados e, mesmo que se conteste o modelo da redução jesuítica, os próprios indígenas se negaram a sair das reduções. De certa forma, tinham se associado à cultura do bem comum sem descuidar do atendimento às necessidades individuais. Foi uma história de muito trabalho, dedicação e, sobretudo, esforço coletivo de cooperação mútua que não poderia ter sido destroçada. Não estará ali, nas campinas missioneiras, um luzeiro do que poderemos reconstruir? As terra vermelhas, tingidas de sangue indígena, quem sabe, poderão nutrir uma recivilização mais justa.

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