Uma estrada transporta consigo a ideia da mobilidade e da transformação. Temos vias famosas, como a mística Santiago de Compostela, a argentina Ruta 40, a americana 66, que nos retornam modificados. Quem seguir pela RSC–471, por certo, não voltará indiferente.
Integrando um corredor da Transbrasiliana (BR–153), a partir de seu quilômetro zero, a uma altitude de 612 m, em Barros Cassal, a RSC–471 percorre por 54 km a região de Planalto das araucárias, hoje mais na lembrança. Dali, o relevo despenca da cota 538 para 79, em menos de 10 km, passando por uma vegetação exuberante de serrania, com arroios encaixados nos basaltos, como o Arroio Francisco Alves, sobre o qual foi construído um portentoso viaduto, antecedido pelos grandes taludes da chamada “sela topográfica”, que desafiaram a engenhosidade construtiva.
Do km 63 ao seu final, sobre o viaduto da BR–471, a estrada percorre uma região de Planície, onde sobressai a várzea do Rio Pardinho, assoreado e sofrido.
Muitos se juntaram para que a RSC–471 se tornasse uma realidade, desde governantes (Britto, Olívio, Rigotto, Yeda Crusius), deputados, prefeitos, vereadores, lideranças regionais, imprensa, e anônimos que se somam aos milhares. Lembro o 18 de dezembro de 2008, quando da inauguração do viaduto/ponte sobre o Arroio Abranjo em Encruzilhada, a governadora firmou a decisão de concluir o eixo norte da RSC–471. Pois está aí. Estamos prestes a transitar pelos seus 105 quilômetros. Uma vitória do povo gaúcho, robustecida pela governadora Yeda Crusius, que de forma determinada priorizou e aportou os recursos financeiros e humanos.
A estrada, além de nos tornar mais competitivos com ganhos socioambientais, diminuir em 110 km a distância ao porto de Rio Grande, e nos aprimorar a autoestima, conduz a algo mais: nunca estaremos sozinhos na trilha, sempre nos lembraremos do empenho, inspiração e suor de todos que a viabilizaram e dela usufruirão. Estarão nos vigiando os corpos indígenas depositados nas fendas dos basaltos e, se apurarmos o ouvido, ouviremos as gralhas nas araucárias. Temos o natural, o construído/destruído, o sagrado e o sustentado estendidos na RSC–471 a nos envolver como um corpo só.
Algures se tem a rota 40, o caminho de Santiago, a ensolarada 66 e tantas outras. Nós temos a RSC–471.
José Alberto Wenzel/Geólogo
Fonte: Jornal Gazeta do Sul - 19/11/2010 - opinião
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