segunda-feira, março 29, 2010

Paraísos Ecológicos: Estação Ecológica de Aracuri

Onde dormem os papagaios

Eles são ariscos, barulhentos, gostam das copas das árvores, mais precisamente do pinheiro araucária, cujo pinhão é seu alimento predileto. Como não estão domesticados, não repetem nomes e palavrões com a facilidade que outras aves de sua espécie exibem quando aprisionadas e levadas para a diversão de crianças, nas cidades. Os cientistas chamam-lhes amazonas petrei, mas todas as pessoas os conhecem como papagios, dos gêneros charão e do peito-roxo, os mais comuns.

Embora dividam o espaço com pouco mais de cem espécies de outras aves, entre as quais algumas viajantes de longas distâncias, como o gavião papa-gafanhoto, que vem dos Estados Unidos para passar a primavera e o verão em nossas matas, esses papagaios são os ocupantes mais famosos (embora cada vez mais raros) da Estação Ecológica de Aracuri, no município de Muitos Capões, a cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre.

Criada em 1981, com 277 hectares, essa é uma das estações menos problemáticas no complexo administrado no Estado pelo Governo Federal. Não existem invasores, a população das redondezas não gosta de caçar e se sensibiliza com a necessidade de preservar a área.

Os papagaios, lembram os vizinhos, sempre preferiram os capões de pinheiro araucária existentes na atual estação. Com isso, a área tornou-se um "dormitório" importante para os papagaios. Mas, antes de dormir eles aproveitam o que é um dos destaques da reserva e dos capões de toda a região, os pinhões que as gralhas azuis -- vistas em grande quantidade por ali -- não conseguirem esconder enterrados.

Ao contrário das gralhas, ocupantes habituais e permanentes dos pinheiros, os papagaios somente chegam entre as 17h30 e 18 horas, deixando o local novamente entre as 5h30 e seis horas, sempre com a mesma rotina: chegam e saem em pequenos bandos, mas não descem para as árvores e nem se dispersam pela região, enquanto todos não estiverem reunidos.

Ao chegarem à área da estação, ficam sobrevoando a mata até que todos os bandos tenham se apresentado. Eles preferem as proximidades do chamado pinheiro vovô, com 36 metros de altura e já sem folhas devido aos seus mais de quinhentos anos de idade.

O primeiro semestre é a época de papagaios na Estação Ecológica de Aracuri, que se enche de ruídos nos entardeceres e amanheceres. Os bandos, em épocas de maior concentração, chegam a escurecer o céu. Eles começam a chegar em janeiro e fevereiro, atingindo o auge, em termos de número de animais, em março. Ficam até junho, época do pinhão, que comem com grande presteza: furam o fruto com o bico e comem tudo, enquanto aguentarem. As sobras que caem no chão são repartidas entre os outros animais: capivaras, pacas, cotias, veados do mato, entre outros, que não conseguem alcançar as copas e não têm a presteza de descobrir os esconderijos das gralhas, que nem as próprias localizam -- é por isto que esta ave, de um azulado muito bonito, é conhecida como a mais eficiente "plantadeira" de araucária.

Contagem científica dos papagios do Aracuri feita por pesquisadores nos últimos anos mostra que eles são entre nove e dez mil. A maior parte é de papagaios-charão, aquele em que se destaca o verde e que tem fama de "falador" nas residências em que é aprisionado.

Uma questão que intriga os pesquisadores é o destino e o local de procriação dos papagaios. Existem apenas algumas teorias. A mais aceita é a de que, após junho e, mesmo, julho, os papagaios se dispersam pelas zonas de mata do Planalto Médio, Depressão Central, Serra do Sudeste, Aparados da Serra e Vale do Ibicuí. Na primavera, nidificam preferencialmente na área compreendida entre Encruzilhada do Sul, Santana da Boa Vista, Caçapava do Sul e Lavras. Até dezembro todos os filhotes já estão em condições de voar e, por essa época, se misturam nos bandos de uma forma em que, naturalmente, se faz uma miscigenação. Depois, na época do pinhão, distribuem-se pelos capões dos campos de cima da Serra, especialmente na atual Estação Ecológica do Aracuri.

De toda a área protegida na estação calcula-se que 35% estão em mata, somente parte dela considerada virgem, onde foram mínimos os dados causados pelo homem. O número de pinheiros da reserva é estimado em próximo de 20 mil com mais de 20 centímetros de espessura, mas são milhares os novos, que estão se formando no meio das árvores e vegetação rasteira. A maior parte da estação é ocupada pelo que, no campo, se denomina de vassoural, onde normalmente se colocaria o gado a pastar. No restante, com uns oito hectares no máximo, existem banhados, as áreas preferidas pelas capivaras, que já integram um bando de algumas dezenas.



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