Entre o poço de Drake, coronel (Edwin Laurentine Drake, norte-americano considerado o pai da indústria do petróleo) contratado para viabilizar a produção de petróleo em 1859, e os dias atuais, incluindo o vazamento no Golfo do México, muita coisa mudou. Na época, ele perfurou um poço que atingiu 21 metros, nos Estados Unidos, enquanto que hoje se alcança mais de nove quilômetros de profundidade. Avançou a tecnologia de perfuração rotativa, de circulação de lama, de colunas de aço, de brocas de alta resolução, além do conhecimento cada vez maior do setor. Tanto que hoje se busca petróleo em alto-mar e em condições muitos adversas. Contudo a base permanece muito semelhante ao longo das décadas que se sucederam.
Podemos ter avanços tecnológicos que nos permitam a prospecção e a produção aliadas às condições geológicas de geração e produção, sem termos a condição essencial: a vida. O petróleo é originado de animais e plantas em ambiente que a seguir garanta sua não oxidação e destruição bacteriana. Foi a abundância vital que nos legou as reservas de petróleo.
Agora, e não é a primeira vez, a espécie humana, que nem existia quando se formou o petróleo, se vê às voltas com um derramamento monstruoso da substância no Golfo do México. A mancha se alastra pelo oceano e atinge a região de influência litorânea do Sul norte-americano, área de delta e de pântanos, que se sabe, um dos maiores berços da atividade vital.
Debitamos o desastre a um problema de mecanismos que não funcionaram na hora de fechar o poço quando da explosão da plataforma. Quanto à perfuração, obriga-nos a realidade a detectar que o furo é mais embaixo. Na verdade, a humanidade está mais preocupada com quantidade de energia, matéria-prima, preço do combustível, marcos regulatórios, divisão de royalties, do que com a consequência dos atos de voracidade consumista.
Enquanto isso, animais, plantas e processos vitais estão a sufocar sob a avalanche de petróleo. Não se prega aqui o fim da tecnologia, mas o redirecionamento da pesquisa. Nós não podemos nos colocar como senhores da natureza como se esta apenas nos sirva de armazém e depósito. Como se pudéssemos retirar dali tudo que imaginamos necessitar e devolver a sucata descartada. Não temos como não ouvir o grito de socorro da natureza, até porque, no fundo, é um grito da mãe comum: a Terra. Não valeria muito mais a pena uma pesquisa voltada para a vida do que preponderantemente para a produção e consumo?
*José Alberto Wenzel, geólogo
** Publicado no jornal Zero Hora de 04/05/2010
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